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Kaio

 

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07 outubro 2006

Problemas ideológicos - parte 1

Putz. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro. Eu, que demorei tanto para "sair" da esquerda, um ano depois, agora tenho a missão de tirar uma amiga minha (ela, ao ler isso, saberá que o post é para ela) da esquerda também. Não quero convertê-la para a direita (longe disso, seria trocar seis por meia dúzia), mas quero, por mais do que tudo nesse mundo, evitar que ela sofra tanto quanto eu sofri por acreditar em uma utopia.
Este será um post longo. Não leia se não estiver a fim de perder tempo com inutilidades.
Eu já me interessava por política desde minha infância. Entre 96 e 2000, eu me interessava pelo PSDB, gostava do discurso deles. A partir da 4ª série, me apaixonei por História e Geografia. Em 2002, apoiei Lula porque o discurso dele me agradou. Porém, já no segundo mês de governo, fiquei profundamente decepcionado, por esperar que ele não fosse TÃO moderado, ao ponto de fazer exatamente o que FHC, a quem ele tanto criticara, fazia.
A minha definitiva guinada para tornar-me um politizado, no entanto, só viria em meados de setembro de 2003. Eu estava muito interessado em livros didáticos de História e Geografia, até pedi alguns emprestados para meus professores das respectivas matérias. Lendo tais obras, eu fui despertando um interesse profundo pela evolução política do mundo e do Brasil. Profundo, mesmo, ao ponto de ser prolixo na hora de responder as questões na prova (eu acertava, mas "viajava na maionese" demais).
Foi quando eu, um dia, em uma livraria, por acaso me deparei com "O Príncipe" de Maquiavel. Os professores ainda não haviam falado de absolutismo (só o fariam na oitava série), mas eu lera no livro de História o capítulo a respeito desse sistema. Maquiavel, obviamente, era citado. Além do mais, quando eu lera "O Conde de Monte Cristo" no início da sétima série, havia uma leve citação a "O Príncipe", pelo fato de Edmond Dantes ter visto a vingança contra seus inimigos um objetivo, e durante o período que ele estava na prisão, o abade emprestou tal livro para ele.
Não titubeei, e implorei para minha mãe comprar "O Príncipe". Custou 17 reais e 50 centavos. Eu adorei o livro. Maquiavel era extremamente cínico, perspicaz e realista na sua análise da política.
Porém, um posicionamento ideológico era necessário para que eu, garoto de 13 anos e neófito no assunto que era, pudesse me "conduzir". Infelizmente, a maioria dos livros didáticos que li...
Pausa. Estou quase chorando ao escrever esse texto. O motivo vocês saberão agora.
... a maioria dos livros didáticos que eu li eram de autores esquerdistas, como o mais panfletário deles, Mário Schmidt. Eu peguei as obras dele para ensino fundamental na biblioteca, e o fato de que o livro dele era muito adotado em escolas públicas (informação dada por um primo meu) me despertou curiosidade pelos livros de Schmidt. Cara, ele é um manipulador e tendencioso. Por quê? Porque ele analisa TODA a História Geral e do Brasil sob o ponto de vista socialista. Não há espaço para mais nada. Ele não relata a História como ela é, mas sim como ele acredita que é. Uma coisa é analisar algo pelo método marxista, outra é querer impor uma visão pelo método marxista.
Eu, tolinho que era, me levei por aquela falácia. Mário, apesar de tudo, escrevia de maneira persuasiva, quase uma lavagem cerebral em pobres alunos sem embasamento teórico. Eu também lia muito os livros didáticos de Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo (mais imparciais), mas quase todas as outras obras eram doutrinárias, e a mais de todas, sem dúvidas, era a "Nova História Crítica" de Schmidt.
No final de 2003, comprei "O Brasil em Sobressalto", livro que conta a história da Folha de S. Paulo relacionada à história do Brasil. Já devidamente manipulado pelos livros didáticos tendenciosos, li o livro sob uma ótica social-democrata. Dois meses depois, comprei "O Manifesto Comunista" de Marx. Gostei, mas nem tanto, achava aquilo tudo muito radical, apesar de achar bacana e otimista a frase de encerramento ("Proletários de todo o mundo, uni-vos!").
Também li nessa época "A Revolução dos Bichos". Fui o primeiro da minha sala a notar a metáfora com Trótski, Stálin e a URSS. E o livro fez em mim justamente o feito que não deveria fazer - me tornou mais idealista. Eu me considerava um Bola-de-neve.
O ano de 2004 ficará marcado na minha vida como o ano em que eu ouvia Beatles todos os dias, mas também o ano em que eu fui extremamente utópíco. Eu me interessava muito pela causa dos social-democratas. Eu não era contra o capitalismo, só acreditava que ele deveria ser de esquerda, com maior preocupação com o social. Marx não me agradava tanto, eu preferia Bernstein. Eu só não gostava de dizer que a social-democracia era "terceira via", pois considerava que isso seria repetir o que Blair fizera na Inglaterra (Schmidt falou sobre isso, hehe).
Eu escrevia dezenas de textos políticos na época, e todos com as devidas fontes bibliográficas. Quem quiser conferir alguns, entre no blog O Espaço Mundial.
Foi no segundo semestre daquele ano que ocorreram dois fatos importantíssimos na minha formação política. Vou até enumerá-los:
1 - Conheci o Politizados Fórum. Eu participava e comentava nele com uma freqüência espantosa - um vício, por que não? Nas discussões eu sempre precisei não ser tão utópico e discutir de maneira mais realista, mas a retórica esquerdista continuava. Passei momentos fantásticos no fórum naquele ano. A crise começou em janeiro de 2005, quando, aos poucos, vários dos caras com quem eu discutia migraram ideologicamente para a direita. Eu era tão idiota que me sentia "traído" por eles, como se eles estivessem se vendendo para o sistema, para os reacionários. Para mim, eles estavam sendo coniventes com as desigualdade sociais, com a pobreza, com a fome com a miséria. Eu me via como um defensor da justiça social - pelo menos na teoria, é claro.
2 - Houve uma simulação de um debate socialismo x capitalismo no meu colégio, em outubro de 2004. Eu, mesmo sendo social-democrata, resolvi advogar em defesa daqueles que estavam mais próximos de mim, os socialistas. Eu discuti várias vezes com o professor de História, que coordenava meu grupo, pois ele era muito sectário, e falava em ditadura do proletariado. Eu me recusava a seguir as orientações dele, porque acreditava piamente em um "socialismo democrático", com pluralidade, livre iniciativa e liberdade, além das usuais igualdade e justiça social. Resultado - fazendo praticamente sozinho meu discurso, fui um dos melhores entre os alunos que discursaram, e contribuí para que os jurados dessem a vitória a meu grupo. E me "radicalizei" ideologicamente - minha social-democracia era ainda mais sonhadora e devaneiante
Ah, também foi nessa época que eu lia a Caros Amigos. Graças a isso, por alguns meses, cheguei a pensar que o Hugo Chavez era "injustiçado pela imprensa"... hahaha, como eu era ridículo.
Acima de tudo, naquela época eu odiava a ditadura militar (aliás, ainda odeio até hoje, afinal ela tirou a liberdade do brasileiro e administrou muito mal a economia) e o governo Collor. Mudei de opinião a respeito do Fernando em janeiro de 2005, graças, ironicamente, à direita do Politizados Forum, que com argumentos verídicos e convincentes, me fez mudar de idéia a respeito dele.
No primeiro ano do ensino médio, eu vislumbrava a possibilidade de debater minhas idéias com outras pessoas. Foi o auge da minha utopia. Quase uma loucura. Mesmo que só de brincadeira, eu desenhava a foice e o martelo no quadro da minha sala!
Eu esbanjava arrogância nas discussões sobre marxismo e conservadorismo. Me considerava o dono do mundo. Até pensava em ser presidente do Brasil.
Porém, chegaria a um momento em que todo aquele meu idealismo iria cair por terra. Talvez, inconscientemente, eu mesmo soubesse que um dia iria sofrer uma intensa mudança de pensamento. Como e quando? Eu não sabia.

 

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