[Meu Facebook] [Meu Last.FM] [Meu Twitter]


 

 

Kaio

 

Veja meu perfil completo

 

 

 

 

11 fevereiro 2008

French fries

A faceta mais extrovertida e sociável de minha personalidade resolveu dar as caras nos últimos dias. Em um fim de semana, conversei mais do que nas férias inteiras.
Minha cabeça está doendo um pouco (também, é nisso que dá passar o dia inteiro no computador), mas vamos lá.
Antes de mais nada, vamos falar um pouco sobre o terceiro e o quarto livro que li neste ano. No próximo post, falarei sobre meus últimos dias.

Comprei a edição da Martin Claret de "O Contrato Social" (Jean-Jacques Rousseau) em março de 2005. Tenho o livro, portanto, há praticamente três anos. Por que, então, até hoje eu ainda não havia concluído tal leitura? O motivo não poderia ser outro: Rousseau é irritante. Sinceramente, ele é muito chato e meloso até mesmo para os padrões do Romantismo, e suas idéias ou são muito utópicas ou já estão tão consolidadas nas democracias ocidentais a ponto de não soarem mais tão geniais. Pois é, não há meio-termo; Jean-Jacques não surpreende ou encanta o leitor.
O livro melhora um pouco na reta final, quando ele filosofa menos e dá um enfoque maior no aspecto histórico. A análise dos comícios romanos, por exemplo, é pertinente. Acredito que Rousseau teve contribuições enormes para a filosofia, a ciência política e a teoria liberal/idealista das Relações Internacionais, mas é um pensador superestimado. Talvez seja só implicância minha - e é provável que seja -, mas "O Contrato Social" é uma obra que perde na comparação com, por exemplo, "Segundo Tratado sobre o Governo" (Locke) e as 220 páginas que já li de "O Espírito das Leis" (Montesquieu; aliás, preciso voltar a lê-lo).

Felizmente, li entre a sexta e o sábado um texto que agradou-me bastante. Estou falando de "Discurso da Servidão Voluntária", escrita pelo filósofo francês Étienne de La Boétie (1530-1563). Ainda estou impressionado pelo fato de que ele, aos 18 anos e em pleno século XVI, escreveu um dos melhores tratados sobre a liberdade de todos os tempos. Poder-se-ia considerá-lo até mesmo um pai do libertarianismo, três séculos antes de Thoreau e quatro à frente da Escola Austríaca.
La Boétie faz um ataque feroz aos tiranos, e também não poupa a população que conduz os mesmos ao poder. Nisso ele pode também ser considerado um pioneiro, pois, de certa maneira, ele faz uma psicologia das massas.
"Digno de espanto, se bem que vulgaríssimo, e tão doloroso quanto impressionante, é ver milhões de homens a servir, miseravelmente curvados ao peso do jugo, esmagados não por uma força muito grande, mas aparentemente dominados e encantados apenas pelo nome de um só homem cujo poder não deveria assustá-los, visto que é um só, e cujas qualidades não deveriam prezar porque os trata desumana e cruelmente."
O autor, em pleno absolutismo, questiona claramente a autoridade dos reis, e os acusa (e com razão) de usar a religião para se promoverem e acumularem ainda mais poderes. De quebra, La Boétie vê a liberdade individual consideravelmente ameaçada pela passividade de quase todos perante ao fortalecimento do Estado, e apresenta uma visão relativamente otimista da natureza humana, mas é consciente de que a mesma é manipulável, e pode ser alienada por demagogos que utilizam o discurso do medo e da ordem para estabelecerem ditaduras. Nem preciso dizer o quanto tal constatação ainda soa amargamente atual...
Os exemplos históricos utilizados por ele são certeiros; destaque para a comparação entre Esparta e Atenas com a Pérsia e uma surpreendente reflexão sobre os últimos anos da República Romana. Étienne considera Júlio César como um inimigo da liberdade e das leis, e até compreende a conspiração do Senado contra aquele que pretendia ser um ditador vitalício. Se César não concluiu seus planos, os imperadores romanos o fizeram, e os abusos dos mesmos (e sempre iludindo a plebe com espetáculos e a satisfação da luxúria e da gula) não são perdoados por La Boétie; o mesmo se pode dizer daqueles que apóiam as tiranias nos bastidores.
Enfim, é uma obra imperdível não só para libertários, mas também para qualquer um que dê o mínimo de valor para a sua liberdade.
"Se fosse difícil recuperar a liberdade perdida, eu não insistiria mais; haverá coisa que o homem deva desejar com mais ardor do que o retorno à sua condição natural, deixar, digamos, a condição de alimária e voltar a ser homem?
Mas não é essa ousadia o que eu exijo dele; limito-me a não lhe permitir que ele prefira não sei que segurança a uma vida livre.
Que mais é preciso para possuir a liberdade do que simplesmente desejá-la?
Se basta um ato de vontade, se basta desejá-la, que nação há que a considere assim tão difícil?"
Obs.: Se quiser ler o livro direto pela internet, clique aqui para acessar a versão disponibilizada pelo libertyzine.

 

Comentários:

 

 

[ << Home]