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Kaio

 

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31 julho 2014

The Best of Racio Símio: 2005-2008

790 posts e 9 anos depois, cá estou eu ainda escrevendo em Racio Símio, o blog que me acompanha desde que eu tinha uma década e meia de vida. Ele desempenhou um enorme papel no meu amadurecimento, afinal foi um espaço que funcionou como diário, divã, oficina literária, divulgação e crítica cultural, ensaios e tentativas filosóficas...
Foi aqui que compartilhei empolgações, frustrações, dúvidas, idéias, relatos de viagem. O momento mais "aborrecente" da minha adolescência (2005-06) foi retratado neste blog; já o período seguinte (2007-08) foi marcado pela transição do ensino médio para a universidade, assim como por uma voracidade em relação aos livros e uma leve expansão da minha vida social; 2009 foi um ano difícil, marcado por uma paixão não-correspondida e, semanas depois, pelo início do meu 1º namoro (que acabaria 5 meses depois); os anos de 2010 e 11 foram muito bons, com destaque para minha evolução acadêmica; em 2012 me mudei para o Rio de Janeiro, tive um namoro que durou apenas 2 meses e comecei outro que, felizmente, continua até hoje; ano passado postei pouco por estar muito ocupado com minha dissertação e com a seleção de doutorado; em 2014 voltei a ter mais estabilidade, e recentemente entrei de cabeça no espírito da Copa do Mundo (vide os 7 últimos posts).
Acredito que dá para encontrar um telos, delinear uma Bildung na minha trajetória nestes nove anos. Minhas convicções fundamentais pouco mudaram; tornei-me mais moderado e menos utópico e misantrópico, mas em geral vejo mais continuidades do que rupturas entre o Kaio de 15 anos de idade e o que sou hoje.
Resolvi "me" homenagear e selecionar 30 (isso mesmo, 30) posts importantes que escrevi em Racio Símio. Alguns escolhi porque considero bem escritos, inteligentes; outros têm valor sentimental; há até alguns que me causam certo constrangimento quando releio, mas eles simbolizam, ainda que pelo negativo, o amadurecimento de seu autor.

Vamos, portanto, ao disco 1 do Best Of! Como não poderia deixar de ser, as "faixas" foram escolhidas em ordem cronológica.
1. Até que enfim... (31/7/2005): a estréia de Racio Símio não poderia ser mais constrangedora e embaraçosa. Um texto nervoso, raivoso, que captura Kaio em pleno chilique de adolescente. Não surpreendentemente, ele reviu várias de suas posições categóricas pouco tempo depois.
Quote: "Só escrevo por escrever, por não ter nada a fazer e ninguém para conversar."
2. Dissidência (28/8/2005): apenas um mês após declarar a plenos pulmões seu socialismo, este que vos fala inicia seu processo de desligamento da esquerda. Os delírios megalomaníacos continuam, mas já se nota a influência da crítica anti-totalitária de George Orwell e a forte impressão deixada pelas reflexões existenciais de Crime e Castigo.
Quote: "Eu não quero ser outro intelectual de butique que vive destilando belas idéias, mas fica trancafiado em seu apartamento, bebendo vinho e se considero superior em relação às proles."
3. My Parklife (26/12/2005): no fim do ano, em meio a uma chácara na qual minha preguiça de socializar chegou a patamares estratosféricos, um livro me salva: On The Road, de Jack Kerouac. Nos próximos meses, este será um dos escritores que mais lerei. Há um tom desencantado, prenunciando como será 2006, o meu ano "gótico".
Quote: "Apenas quero encontrar pessoas com quem eu tenha prazer de ter a companhia. Viver no underground, ouvindo meus discos de Rock alternativo, lendo Nietzsche e conversando com meus amigos. E só."
4. Meia-idade na adolescência (13/2/2006): um dos melhores textos que escrevi naquela época. Um retrato do nerd solitário quando jovem. Sim, há muita arrogância, auto-suficiência e intransigência, mas também há sinceridade e potencial para ser lapidado.
 
Quote: "Com quinze anos, não há quase nada a se fazer. É o ponto médio da adolescência."
5. Soy loco por ti, América? (15/2/2006): uma divertida e contundente análise política da América Latina; foi até publicada no Correio Classe, jornal de minha escola. Fazia poucas semanas desde que eu havia saído do armário ideológico e me assumido de direita. Daí se explica meu tom impiedoso com os caudilhos de esquerda que dominavam (e, em vários casos, ainda dominam) a política de nosso sub-continente.
Quote: "Talvez os latino-americanos não querem ainda embarcar na pós-modernidade e na globalização, e é sinal dessa obsolência a vitória de políticos populistas e nacionalistas/socialistas. (...) O atraso permanente da região é evidente, ela sempre está um passo atrás do resto do mundo."
6. Violently happy? (6/3/2006): um post angustiado, escrito após um fim de semana de altos e baixos. Mesmo assim (ou talvez justamente por isso), foi um dos comentados da história do blog, rs. Surpreendi-me ao reler a forte auto-crítica do trecho a seguir.
Quote: "Do nada, tive a idéia de reler uns posts antigos do meu blog. E fiquei perplexo - como os meus textos eram horríveis. Não do ponto de vista gramatical ou de concordância, mas sim no conteúdo: egomania, paixões cegas, imbecilidades, surtos de arrogância, promessas não cumpridas. Me senti triste. Tanto que nem consegui dormir."
7. Happy birthday to me (29/6/2006): eis um auto-balanço. O Kaio de 16 anos conta um pouco do que passou desde que fez 15. Eu era bastante duro comigo mesmo; por exemplo, eu me chamava de "velho rabugento" e "imaturo e inconseqüente".
Quote: "Crio problemas imaginários para compensar a frustração de que não tem nada de errado comigo nem ou na minha vida."
8. Let's go out and have some fun! (15/11/2006): para sair da fossa após uma paixão internética não-correspondida, nada como viajar pela 1ª vez para São Paulo e assistir a uma de minhas bandas favoritas naquela que viria a ser sua última turnê com Peter Hook. A apresentação do New Order foi incrível, e me animou a ponto de agir como um divisor de águas, iniciando uma "nova ordem": dali em diante passei a diminuir minha atitude negativa diante do mundo e de mim mesmo.
Quote: "Acabou! 1h35 do show que, por muitos anos, será o melhor momento da minha vida. O sorriso estampado no meu rosto após o fim do concerto era a prova disso."
9. Tonight I think I'll walk alone (26/11/2006): antes da redenção, uma recaída. Este post retrata o ápice da minha misantropia. Embora eu reclame das "centenas de pessoas homogêneas e patéticas", na verdade quem foi patético fui eu, sentado e "austistando" numa escada do Centro Cultural Oscar Niemeyer.
Quote: "Espero que a semana que está por se iniciar compense isso, e se aproveite do fato que eu ando feliz apesar da falta de momentos felizes. Uma contradição entre o homem e seu meio."
10. Let there be love (7/3/2007): uma das minhas redações preferidas. Usei uma menina do colégio por quem eu tinha uma "crush" (porém, nunca cheguei a me apaixonar para valer por ela) como musa inspiradora e resolvi fazer uma metáfora amorosa a partir de Platão e Aristóteles. Meses depois, quando comecei a escreveu meu romance (até hoje inacabado, diga-se de passagem), César e Penélope reaparecem como protagonistas, embora a garota tenha mudado de nome (Júlia).
Quote: "Penélope estava silenciosa, mas, mentalmente, a operar uma série de raciocínios e conclusões a respeito do que o professor dizia. Enquanto isso, César falava constantemente, pois aprendia a matéria comentando e participando da aula, sempre com uma oratória vibrante."
11. A dilatação da espera (1º/7/2007): outra boa redação que escrevi naquela época. A influência dos Fragmentos de um discurso amoroso (Roland Barthes), livro que meu professor de Redação havia me recomendado e emprestado, é notória. 
Quote: "Se há alguma coisa da Física Moderna que se pode aplicar aos relacionamentos, estamos falando da dilatação do tempo."
12. Blue, azul, bleu, freedom, liberdade, liberté (13/7/2007): post escrito de madrugada, em meio à ansiedade pelo resultado do vestibular da UnB; poucas horas depois, descobri que, mesmo tendo feito a prova como treineiro, eu tinha passado. Em um raro momento cinéfilo, resenhei três filmes de uma só vez: "Politicamente Incorreto" ("Bulworth"), "Barbarella" e "A Liberdade é Azul".
Quote: "'Você é o que quiser'. Talvez seja esta uma das mensagens que o filme passa. Ou não."
13. A Entropia da Liberdade (6/8/2007): um texto longo, pretensioso e com ares de "filosofia da história". Usei metáforas da Química para justificar minha crença em um futuro anarco-libertário. Hoje em dia obviamente não compartilho dessa ingenuidade ideológica, mas valeu como ensaio, como experiência de pensamento.
Quote: "Não me surpreenderia se chegássemos ao fim do Século XXI regidos por um protótipo de anarquismo."
14. Politics go so good with... UnB! (21/2/2008): depois de passar novamente no vestibular (e, desta vez, já com o ensino médio concluído, podendo de fato me matricular na universidade), a euforia foi tanta que resolvi glorificar meu método de estudo. Texto bobo, mas tem valor histórico.
Quote: "O importante é que a tática kaionista deu certo, e poderá servir como exemplo para as gerações futuras. O plano de dominação global está prestes a ser aplicado! [Risada diabólica]"
15. A Magia da Montanha (8/7/2008): esta resenha foi o ponto de partida para aquele que seria o meu objeto de estudo desde então: os aspectos filosóficos e ideológicos da literatura de Thomas Mann. Li as últimas 500 páginas de A Montanha Mágica em apenas 7 dias, de tão empolgado que estava com os debates entre Settembrini e Naphta e com a tumultuada formação moral e estética de Hans Castorp.
Quote: "Se Castorp é Weimar, Settembrini é a voz do cânone ocidental pregando paz, harmonia, valores republicanos e liberalismo, enquanto Naphta encarna os radicalismos que ganhavam mais e mais terreno naquela época: nacionalistas, socialistas e anarquistas."

Amanhã postarei o disco 2!

 

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