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Kaio

 

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24 janeiro 2017

Word on a Wing

Decidi me impor um projeto, uma meta para as próximas semanas: escrever um post por dia no blog. 
É uma maneira de eu criar uma rotina para as quatro semanas restantes das minhas férias, com o benefício de "ressuscitar" Racio Símio depois de quase não atualizá-lo em 2016 - sem falar que muitas atualizações foram precárias.

#1
Hoje comecei e terminei de ler O catolicismo hoje (Luiz Felipe Pondé). O livro trata dos desafios teológicos, políticos e culturais que a Igreja Católica vem enfrentando tanto na modernidade como um todo quanto no mundo contemporâneo de forma mais detida. A conclusão de Pondé é interessante: 
"A Igreja tem a seu favor uma 'experiência de mercado' de 2 mil anos. Por isso, sua psicologia do humano está, de certa forma, sustentada numa longa observação das mazelas humanas e do enfrentamento delas. (...) Sua hipótese é de que somos seres atormentados pelas inseguranças do cotidiano e pelo medo da morte. Sua aposta é de que, mesmo que mude o cenário, somos os mesmos invejosos, orgulhosos e assustados de sempre. Se alguém ajudar-nos a lidar com esses afetos, amando-nos e dando-nos parâmetros, nós seremos melhores do que foi Caim. Enfim, uma busca pelo Abel que existe dentro de nós" (pp. 135-136).
A propósito, acho que não disse isso aqui ainda, mas estou me convertendo ao catolicismo. 
Fui ateu dos 13 aos 20 anos; em 2011 comecei a ler mais sobre filosofia cristã, e romances de Dostoiévski como Os Demônios despertaram meu interesse pela visão de mundo do cristianismo. Quando me mudei para o Rio, no ano seguinte, já estava pensando em me converter; mas, com o mestrado e o doutorado - além de uma vida pessoal turbulenta em 2012 -, acabei adiando esse intento. 
No ano passado, contudo, um amigo meu (com quem eu inclusive dividia um apartamento) disse que ia começar a fazer aulas de catecismo num centro católico em Botafogo; resolvi aproveitar a oportunidade para também fazer essas aulas de doutrina. 
Nas férias passadas, quanto contei da minha conversão para meus avós maternos, eles ficaram bem felizes; comecei até a ir à missa que eles freqüentam, e gostei muito. Quando voltei para o Rio em agosto, comecei a ir todo domingo na missa das 9h da igreja mais próxima do meu prédio. Em dezembro terminaram as aulas de doutrina.
No próximo domingo meu avô deve me indicar um padre para cuidar da minha primeira comunhão. 

#2
O primeiro livro que li em 2017 foi O Vermelho e o Negro (Stendhal). É um grande romance, com uma psicologia fina e por vezes cínica e um acurado retrato sociopolítico da França pós-napoleônica e à beira da Revolução de 1830. Personagens como Julien Sorel, Madame de Rênal e Senhorita de La Mole são extremamente cativantes, e seus monólogos interiores são um ótimo expediente para o autor mostrar o contraste entre intenções e ações. Agora entendo melhor por que Auerbach dedicou um capítulo de Mimesis a esta obra, considerada por ele um dos momentos culminantes do realismo literário.
Consegui ler o romance inteiro em 10 dias, de tão envolvido que fiquei pela trama. Futuramente pretendo ler também A Cartuxa de Parma, outra obra consagrada de Stendhal.

#3
Ontem foi o 41º aniversário de Station to Station, meu 2º álbum favorito de David Bowie. Todas as suas seis faixas são excelentes: a épica faixa-título, a ambígua "Golden Years" (alegre nostalgia ou "run for the shadows"?), a religiosidade conflituosa de "Word on a Wing", a excêntrica "TVC 15", a empolgante "Stay" (com direito a um belíssimo solo de guitarra na segunda metade) e o belo e melancólico cover de "Wild is the Wind".
O meu disco predileto de Bowie é Low, sobre o qual escrevi o seguinte há alguns dias: 
Em 14 de Janeiro de 1977, David Bowie lançou o álbum "Low", que marcou o início da chamada "trilogia de Berlim" (muito embora apenas "Heroes" [77] tenha sido gravado na capital alemã; as sessões de "Low" foram na França e as de Lodger [79], na Suíça e nos EUA). Após os excessos da vida em Los Angeles (retratados no documentário "Cracked Actor" [75] e no excelente disco "Station to Station" [76]), Bowie resolveu se "exilar" em Berlim para recuperar sua sanidade física e mental. 
Em "Low" sua verve experimental foi atiçada pelos produtores Tony Visconti (que desenvolveu o som peculiar da bateria) e Brian Eno (que cooperou nas experiências com música eletrônica e ambiente). O Lado A tem canções repletas de sintetizadores e letras fragmentadas e por vezes melancólicas, dentre as quais se destacam "What in the World" (os efeitos sonoros lembram uma máquina de pinball, e a faixa conta com backing vocals de Iggy Pop), "Sound and Vision" (um clássico de melodia alegre e letra claustrofóbica), "Always Crashing in the Same Car" (uma das mais soturnas do disco) e "Be My Wife" (seria a letra tocante ou debochada?). O Lado B tem fortes influências de Kraftwerk e krautrock, e conta com quatro faixas instrumentais, dentre elas a sublime "Warszawa" e a taciturna "Art Decade".
"Low" é meu disco predileto de David Bowie, pois traz uma radical renovação estética na obra deste artista (e isso considerando que entre "Diamond Dogs" [74] e "Young Americans" [75] já havia migrado do glam para o soul!) e serviu de inspiração direta para o post-punk - em bandas como Joy Division (que inicialmente se chamava Warsaw) e The Cure - e também influenciou discos de viés mais artístico de bandas posteriores, como Blur e Pulp.

 

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